quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

Depoimento à Fé na Nhá Chica

Mirna Galesco Dias veio de Campinas,
SP para agradecer
Sobre Nhá Chica, foi um pedido antes de entrar no centro cirúrgico. Disse a ela que se eu voltasse da anestesia geral - que era o maior medo que eu tinha por ser fumante - eu iria vê-la e agradecer.

O mais interessante foi minhas amigas me convidarem, pois seriam um dos carros de apoio. Estas amigas conheceram Nhá Chica por meu intermédio, e hoje são devotas. Foram para agradecer várias coisas de trabalho e saúde.

A PALAVRA DA FÉ CRIADORA, MUITO ALEM DE UM SIMPLES PROJETO POLITICO!”

Depoimento da Historiadora, Mirna Galesco Dias,
que também participou da XII – Caminhada de Mulheres de Fé, ela veio de Campinas, SP

Dia 8 de Dezembro, dia consagrado a Nsa. Sra. Da Imaculada Conceição, saíram em romaria da cidade de São Thomé das Letras, cerca de cinquenta mulheres de Fé e seguiram para a pequena cidade de Baependi, para na Igreja da Imaculada Conceição, homenagear Francisca de Paula de Jesus, conhecida pelo nome de Nhá Chica, a leiga e primeira mulher negra, brasileira a ser beatificada pelo Vaticano.

Nhá Chica foi uma conselheira do sertão de Minas Gerais, aclamada como “mãe dos pobres”, por sua influência na região, por seus sábios conselhos e orientações, e também por sua fama de realizar “milagres”.

A vida de Nhá Chica é permeada por muito mistérios e diversos relatos, que vão desde a caridade praticada durante sua vida com os menos favorecidos, até os conselhos buscados por ricos proprietários de terras, que em agradecimento faziam grandes doações para sua obra.

Mirna Galesco Dias
Nhá Chica nunca reinvindicou para si nenhum reconhecimento de nenhuma de suas obras. Sempre atribuiu a Imaculada Conceição, com sua conhecida frase:

”Eu apenas rezo com Fé, e Nossa Senhora atende aos meus pedidos.” Uma Mulher de Fé, cujo único instrumento foi a “Palavra”.

Escolhi Nhá Chica como tema de meu Trabalho de Conclusão de Curso, da Faculdade de História, na PUC Campinas em 2013, ano em que foi beatificada. Conheci sua história em 2007, quando fui morar em São Thomé das Letras num momento da vida em que eu me sentia perdida em relação aos diversos projetos que construí ao longo de minha existência. Fui em busca de novos sentidos, pois em meus 45 anos de vida, diversas situações haviam se formado e saído do controle, como acontece na vida de todos nós. Há momentos em que perdemos o rumo...

Em 2009, retornei a Campinas, e no ano seguinte tomei a decisão de realizar o antigo sonho de ir para Universidade. Minha missão de criar e encaminhar meus três filhos parecia estar concluída, e portanto fui em busca de meus sonhos mais antigos.

Sempre fui uma pessoa comunicativa e isso sempre me foi de grande ajuda, e me interessei pela vida desta mulher aparentemente frágil, mas que tinha uma “Palavra” de força, para todos que a procuravam.

Nos tempos atuais, a Fé, em seu conceito original, tem sido distorcida e conduzida de modo individual. Buscar o conselho de uma pessoa “antiga” é um movimento fora de moda, e o tratamento ao qual a maioria dos idosos tem sido submetidos, tanto no seio das famílias como pelo próprio Estado, deveria nos causar repúdio e vergonha.

A pessoa que envelheceu geralmente é esquecida e passa o restante de sua vida completamente só, independentemente de morarem ou não sozinhos. Enquanto servem de ajuda, são muito bem-vindos, mas quando, ao contrário, necessitam dos cuidados e do carinho para atravessarem o último portal desta vida para a morte, é neste momento que são “abandonados”, muitas vezes não materialmente, mas sim, na maioria das vezes sofrem o abandono afetivo de seus filhos e familiares. Desse modo vivem muitos idosos, alternado seu pouco tempo de vida entre a espera de uma simples visita de seus filhos e a morte.

Mas os tempos pedem urgência de trabalho, a luta pela vida tem se tornado o centro da existência de todos, e a alegação do “não tenho tempo”, fundamenta os diversos abandonos que tantos idosos suportam, pacientemente, lembrando de sua vida sem ter para quem relatar suas experiências e dar, com muito amor, seus conselhos aos mais jovens.

Basta um rápido olhar para perceber, em pleno século 21, crianças mal-nascidas, sem qualquer planejamento futuro, e os velhos, sem nenhuma perspectiva de presente. Como se houvesse uma “separação” natural entre infância, vida adulta e velhice. Esta impressão é falsa, já que todos nós passamos necessariamente por estas fases para chegarmos um dia a ser nós mesmos, os velhos que hoje estão esquecidos e sem utilidade prática. É necessária a reflexão de cada um sobre esta realidade.

Dia 17 de Outubro último, recebi o diagnótico de câncer na tireóide. Foi uma descoberta inesperada, só possível pela experiencia do médico responsável pela biópsia de um nódulo já avaliado como benigno, mas que havia aumentado de tamanho. O médico, Dr. Mauricio de Souza Arruda, ao examinar meu pescoço através do exame de ultrassom, identificou a presença de um novo nódulo, muito profundo e escondido que chamou sua atenção e foi colhido material extra, para avaliação. Graças a este médico, sua dedicação, atenção e amor ao trabalho, descobri em tempo e passei por cirurgia de retirada total da tireoide, no dia 28 de Novembro. Serão feitos tratamentos e acompanhamentos por cinco anos, até que eu seja declara curada completamente.

E foi na espera no centro cirurgico que a finitude da vida se apresentou mais uma vez para mim. Inevitavelmente, lembrei-me dos diversos momentos vividos, das pessoas que já se foram, e daquelas que ainda estão aqui, dos meus projetos inacabados, meus estudos abandonados e os diversos problemas que se apresentam e que não temos treino suficiente para compreender, aceitar ou esperar o tempo da Natureza para que se resolvam. Não existe a menor possibilidade de mudarmos nada , na vida de qualquer pessoa, além da nossa mesma.

Neste momento lembrei-me de Nhá Chica, da pesquisa que realizei sobre sua vida, e disse mentalmente a ela que, caso eu retornasse a vida, após aquele procedimento, eu iria até Baependi “visitá-la”, pois através da história desta mulher, eu havia aprendido muitas coisas não acadêmicas, principalmente, no tocante a “Palavra”.

Aprendi, mas não coloquei tanto em prática quanto poderia. Pedi ao Todo uma nova chance de tentar cumprir aquilo que hoje acredito ser minha missão de vida: ensinar através da minha “palavra”. Me formei professora e sou bacharel em História, a palavra também é meu instrumento de trabalho, e eu me desviei deste caminho ao jogar palavras ao vento, em direção aos surdos.

Reconheci que tenho lutado o Bom Combate, mas de maneira incorreta. Não se ensina ninguém apenas através da palavra sem um bom exemplo de vida, e a maior e mais importante “sala de aula” é o próprio mundo, onde somos todos aprendizes e professores. Aqueles que estão a frente no “caminho”, conhecem o percurso e portanto, idosos são verdadeiros “arquivos” vivos, que foram expectadores muito antes dos iniciantes, e tem muito a ensinar, pois entram e saem governos e seus sistemas, mas as leis da Natureza continuam as mesmas, desde o inicio: nascemos, vivemos e morremos todos.

Nem sempre, o que dizemos está de acordo com o que realmente pensamos, e muito menos com o modo como agimos. Este “ajuste” se faz necessário com urgência nestes tempo, onde a “mentira” tem se apropriado não só da palavra política, mas também da palavra de Fé.

Participei da Romaria no carro de apoio às romeiras, já que eu mesma estava impedida de cumprir um percurso tão longo a pé. Mas prestei minha homenagem à ela, e a todas as mulheres que através de sua palavra curam o corpo e a alma, e deste modo tornam o seu próprio mundo e de seu semelhante um lugar melhor.

Desejo a todos a “boa palavra”; a palavra Verdade, a palavra de consolo quando necessitarem, a palavra que constrói a alegria, a palavra que levanta aquele que está caído e traz um farol àqueles navegantes deste Universo quando se perdem da Luz e atravessam a noite escura da alma.

“No inicio havia o Nada, e o Verbo (palavra) criou todas as coisas”.

Pense nisso e crie para você e teu semelhante o mundo em que deseja viver. Experimente, vale a pena.

Gostaria de agradecer ao proprietários do Camping São Francisco, Francisco e Neide Marie – organizadora da romaria de Nhá Chica -, a acolhida e hospedagem.

Também as minhas amigas de Campinas, Raquel que fez o apoio com seu veículo comigo a bordo, Gigi, Carmem e Carlota pelo convite e carona e também aos hospedes do camping, uma turma de estudantes e atores alunos e mestrandos na Unicamp, por dividirem conosco sua alegria de viver.

E também citar uma ocorrencia, no minimo, interessante. Num ponto qualquer do trajeto na Estrada Real, zona completamente rural, de madrugada, paramos o veiculo, fizemos o apoio e decidimos seguir na retaguarda da romaria. Esperamos que todos seguissem e apagamos as luzes todas do carro e resolvemos sair para observar o céu, que estava lindo, forrado de estrelas e ficamos algum tempo maravilhados, assistindo estrelas cadentes cortanto o céu. Num determinado momento, a terra tremeu. Mas tremeu mesmo! Eu, Raquel e Carlota estavamos juntas e fomos surpreendidas por este tremor. Ao comentarmos com os nativos daquelas terras, descobrimos mais uma história sobre Nhá Chica:

TREMOR DE TERRA EM CAXAMBU

“Antigamente, contam os antigos, houve um tremor de terra no sul de Minas. Caxambu foi a cidade mais afetada.
Naquele tempo a terra tremia diariamente e provocava pânico no povo.

Então Sta. Nhá Chica apareceu e propôs um acordo ao prefeito de Caxambu. Eis que em troca de alimentos para ajudar os pobres de Baependi  ela  orava  a  Deus  pelo  fim  do  tremor  de   terra. Acertado o acordo, a boa mulher milagrosa orou ali publicamente, ajoelhada. Saibam todos que Deus ouviu-a, isso não é conversa fiada, eo terremoto cessou logo.

 Muitos dos nossos viram este milagre e creram na iluminação da filha de Isabel. E o povo humilde da roça ouviu seus avós contarem este ato, o qual foi passado de boca em boca até alcançar nossos dias.”
Campinas 13 de Dezembro de 2017 – Dia de Santa Luzia.
Luz para todos!

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